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Muro do Cotuca ganha grafite de Nénão

Artista assina obra para o Memorial Covid do Colégio



Texto Gabriela Villen  |  Fotos José Irani  |  Edição de imagem Paulo Cavalheri (SEC)

 

Os 170 metros de muro que ligam o Colégio Técnico da Unicamp (Cotuca) à Av. João Penido Burnier, na Vila Itapura, em Campinas, ganharão os traços e as cores do grafiteiro internacionalmente premiado Gustavo Nénão. Natural de Campinas e radicado em Londres, na Inglaterra, Nénão foi eleito o melhor artista brasileiro da Europa na premiação Best of Brazil European Awards 2020. Em seu portfólio figuram trabalhos para Michelle Obama, Xuxa, Marcelo D2 e Chiquinho Scarpa, além de ​​empresas como McLaren, Red Bull, 3M, Hospital Israelita Albert Einstein, Festival Lollapalooza e Aeroporto Internacional de Viracopos, entre outros. O projeto, que teve início nesta terça-feira (8), faz parte do Memorial Covid da Unicamp, patrocinado pela Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proec) da Unicamp, que busca prestar homenagem às vítimas da pandemia e ressaltar a importância da ciência para sociedade.

“O Memorial Covid tenta fazer uma homenagem às pessoas que perdemos, mas também é uma ode à vida! A gente precisa continuar, a gente precisa suportar e suplantar a dor. Esses registros, por meio de obras de arte, ajudam de uma forma mais lúdica, a fazer com que essa dor seja mais suportável. Ajudam também a provocar uma constante reflexão sobre por que isso aconteceu e por que nós, como sociedade, permitimos que isso acontecesse”, ressaltou o pró-reitor de Extensão e Cultura da Unicamp, Fernando Coelho. “A ideia seria um memorial que nos lembrasse de aonde a negação da ciência pode levar a humanidade.”

Obra teve início nesta terça-feira (8); muro de 170 metros do Cotuca terá grafite assinado por Gustavo Nénão

Coelho destacou ainda a escolha do local. “É muito fundamental que esse desenho esteja onde ele vai estar. No muro de uma escola de qualidade, uma escola pública que tem como principal objetivo formar gente, formar pessoas críticas. Porque é isso que a gente quer: uma sociedade educada e crítica. Porque só assim a gente consegue espantar a escuridão”, pontuou.

O projeto chamou a atenção de Nénão justamente por sua ligação com o público jovem. “Eu trabalhei muito tempo com arte educador, trabalhei com jovens que cumprem medidas socioeducativas. Meu foco sempre foram os jovens. É o futuro do país, né? Acho que, se a gente quer a mudança, a gente também tem que estar disposto a dar o nosso melhor para receber isso”, destacou.

Além da execução da pintura, o projeto inclui palestra e oficina, que acontecerão no dia 14 de setembro (detalhes sobre as inscrições serão divulgados em breve). “Acho que a gente ensina pelo exemplo. Gosto de mostrar para os jovens que é possível viver de arte. Que arte é uma forma de reflexão, uma forma de você se comunicar, é uma forma de você colocar para fora alguma coisa que você sente, de que você gosta, com que você está alinhado ou desalinhado. Na arte, você expõe seu ponto de vista, mas de uma forma muito respeitosa, que vai fazer com que as pessoas façam uma reflexão, saiam dali impactadas, saiam dali de uma forma diferente", afirmou o artista.

Nénão lembrou também a história da cidade de Campinas, última da América Latina a abolir a escravidão, e as implicações culturais que essa história tem até hoje. “Campinas é uma cidade muito carente de cultura e de educação”, refletiu.

Nénão durante encontro com pró-reitor de Extensão e Cultura, Fernando Coelho, e a arquiteta Renata Marangoni  

De acordo com Renata Marangoni, arquiteta da Proec, a relação com a cidade foi um dos pontos-chave do projeto e da escolha da localização do memorial. “Começamos a trabalhar com a ideia de atuar e criar essa memória em todos os campi da Unicamp, em Campinas, em Limeira e em Piracicaba. O restauro todo do prédio do Cotuca havia acabado de acontecer e tinha aquele muro cinza. Então, achamos que era uma excelente oportunidade de olhar para a cidade e, a partir do grafismo, dialogar com o meio urbano”, contou. Para a arquiteta, a pintura deve interferir no ambiente da região e contribuir para sua revitalização. “Esse é um o espaço que já está se transformando. A ideia de revitalizar aquela área reafirma o diálogo da Unicamp com a cidade, da Universidade com a sociedade”, disse.

Nénão esteve na Unicamp em 2020, quando realizou uma pintura para celebrar os profissionais da saúde no Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp (leia matéria publicada no site do HC). O artista é embaixador da Casa Ronald McDonalds, que cuida de crianças com câncer infantil, e da Fraternidade Sem Fronteiras, que mantém projetos no nordeste do Brasil e na África para atender crianças com microcefalia.

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